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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

São Cipriano

São Cipriano de Cartago
(†258) Bispo de Cartago e Mártir

I Parte:
«A Unidade da Igreja»
1 - VIGIAI, O INIMIGO VEM DISFARÇADO
(1) "Vós sois o sal da terra" (Mt 5,3), diz o Senhor, e ainda nos recomenda que sejamos simples pela inocência e prudentes na simplicidade [Mt 10,16]. Nada pois é mais importante para nós, irmãos diletíssimos, quanto vigiar com todo o cuidado para descobrir logo e, ao mesmo tempo, compreender e evitar as ciladas do inimigo traiçoeiro. Sem isso, embora sejamos revestidos de Cristo [Rom 13,14; Gál 3,27], que é a Sabedoria de Deus Pai [1Cor 1,24], nos mostraríamos menos sábios na defesa da salvação.
(2) De fato, não devemos temer só a perseguição e os vários ataques que se desencadeiam abertamente para arruinar e abater os servos de Deus. Quando o perigo é manifesto, a cautela é mais fácil. O nosso espírito está mais pronto para lutar contra um adversário abertamente declarado. É mais necessário ter medo e guardar-nos do inimigo que penetra às escondidas, e se vai insinuando oculta e tortuosamente com falsas imagens de paz. Bem lhe convém o nome de serpente! Essa foi sempre a sua astúcia, esse foi sempre o tenebroso e pérfido engano com que tenta seduzir o homem.
(3) Já no começo do mundo mentiu e enganou as almas crédulas e ingênuas (dos nossos primeiros pais), acariciando-as com palavras falazes [Gen 3,1ss] . Igualmente ousou tentar a Cristo, nosso Senhor, e se aproximou dele insinuando, disfarçando, mentindo. Foi contudo desmascarado e repelido. Desta vez, foi derrotado porque foi reconhecido e descoberto [Mt 4,1ss].
2 - ACIMA DE TUDO: CUMPRIR OS MANDAMENTOS DE CRISTO
(1) Sirvam-nos estes exemplos. Evitemos o caminho do homem velho, para não cair no laço da morte. Sigamos as pisadas de Cristo vencedor, para que, usando cautela diante do perigo, alcancemos a verdadeira imortalidade.
(2) Mas, como poderíamos chegar à imortalidade, sem observar os mandamentos de Cristo? São eles os únicos meios para combater e vencer a morte. Ele nos avisa: "Se queres chegar à vida, observa os mandamentos" (Mt 19,17), e, de novo: "Se fizerdes o que vos mando, já não vos chamarei servos, mas amigos" (Jo 15,15).
(3) Esses são os que ele diz serem fortes e firmes. Esses têm fundamento sólido na pedra, e gozam de inabalável resistência contra todas as tempestades e as rajadas do século. "Quem ouve as minhas palavras - diz ele - e as cumpre é semelhante ao homem sábio que construiu a sua casa sobre a pedra. Desceu a chuva, desabaram as correntes, sopraram os ventos, batendo contra aquela casa, e ela não caiu porque fora fundada na pedra" (Mt 7,25).
(4) Devemos, pois, prestar atenção às suas palavras, devemos aprender e praticar o que ele ensinou e o que fez. Como poderia asseverar que acredita em Cristo aquele que não cumpre o que Cristo mandou? E como conseguirá o prêmio da fé aquele que recusa a fé no que foi mandado? Fatalmente ele irá vacilando, à ventura, e, arrastado pelo espírito do erro, será varrido como pó agitado pelo vento.
(5) Nunca poderão conduzir à salvação os passos daquele que não adere à verdade da única via que salva.
3 - O DEMÔNIO É O AUTOR DOS CISMAS
(1) Devemos pois guardar-nos, irmãos caríssimos, não só dos males que aparecem claramente como tais, mas também, como já disse, daqueles que nos enganam pela sutileza da astúcia e da fraude.
(2) Pois bem, vede agora a que ponto chega a astúcia e a sutileza do inimigo. Veio Cristo ao mundo. Veio a luz para os povos e resplandeceu para a salvação dos homens [Lc 2,32]. Com isto ficou descoberto e derrotado o antigo adversário. Os surdos abrem os ouvidos às graças espirituais, os cegos abrem os olhos a Deus, os enfermos ficam são ao ganhar a saúde eterna, os coxos correm à Igreja, os mudos soltam as suas línguas na oração [Mt 11,5; Lc 7,22]. Aumenta dia a dia o povo fiel, abandonam-se os velhos ídolos, tornam-se desertos os seus templos.
(3) Então, o que faz o malvado? Inventa nova fraude para enganar os incautos com o próprio título do nome cristão. Introduz as heresias e os cismas para derrubar a fé, para contaminar a verdade e dilacerar a unidade. Assim, não podendo mais segurar os seus na cegueira da antiga superstição, os rodeia, os conduz ao erro por novos caminhos. Rouba à Igreja os homens e, fazendo-lhes acreditar que alcançaram a luz e se subtraíram à noite do século, envolve-os ainda mais nas trevas: não observam a lei do Evangelho de Cristo e se dizem cristãos, andam na escuridão e pensam que possuem a luz, nisto são iludidos e lisonjeados pelo adversário, que, como diz o Apóstolo, "se transfigura em anjo de luz" (2Cor 11,14).
(4) Disfarça seus ministros em ministros de justiça, ensina-lhes a dar à noite o nome de dia, à perdição o nome de salvação, ensina-lhes a propalar o desespero e a perfídia sob o rótulo da esperança e da fé, a apregoar o Anticristo com o nome de Cristo. Mestres na arte de mentir, diluem com as suas sutilezas toda a verdade.
(5) Isto acontece, irmãos caríssimos, porque não se bebe à fonte mesma da verdade, não se busca aquele que é a Cabeça, nem se observam os ensinamentos do Mestre celestial.
4 - "TU ÉS PEDRO, E SOBRE ESTA PEDRA..."
(1) Quem presta atenção a estes ensinamentos não precisa de longo estudo, nem de muitas demonstrações. A prova da nossa fé é fácil e compendiosa.
(2) Assim fala o Senhor a Pedro: "Eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas dos infernos não a vencerão. Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus e tudo o que ligares na terra será ligado também nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado também nos céus" (Mt 16,18-19).
(3) Sobre um só edificou a sua Igreja. Embora, depois da sua ressurreição, tenha comunicado igual poder a todos os Apóstolos, dizendo: "Como o Pai me enviou, eu vos envio a vós. Recebei o Espírito Santo, a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados, a quem os retiverdes ser-lhe-ão retidos" (Jo 20,21-23), todavia, para tornar manifesta a unidade, dispôs com a sua autoridade que a origem da unidade procedesse de um só.
(4) É verdade que os demais Apóstolos eram o mesmo que Pedro, tendo recebido igual parte de honra e de poder, mas a primeira urdidura começa pela unidade a fim de que a Igreja de Cristo aparecesse uma só.
(5) O Espírito Santo, falando na pessoa do Senhor, designa esta Igreja única quando diz no Cântico dos Cânticos: "Uma só é a minha pomba, a minha perfeita, única filha da sua mãe e sem igual para a sua progenitora" (Cant 6,9).
(6) Aquele que não guarda esta unidade poderá pensar que ainda guarda a fé? Aquele que resiste e faz oposição à Igreja poderá confiar que ainda está na Igreja?
(7) Paulo apóstolo inculca o mesmo ensinamento e mostra o sacramento da unidade, dizendo: "Um só corpo e um só espírito, uma é a esperança da vossa vocação, um Senhor, uma fé, um Batismo, um só Deus" (Ef 4,4-5).
(8) E, depois da ressurreição, diz ao mesmo: "Apascenta as minhas ovelhas" (Jo 21,17). Sobre ele só constrói a Igreja e lhe manda que apascente as suas ovelhas. Embora comunique a todos os Apóstolos igual poder, todavia institui uma só cátedra, determinando assim a origem da unidade.
(9) É verdade que os demais [Apóstolos] eram o mesmo que Pedro, mas o primado é conferido a Pedro para que fosse evidente que há uma só Igreja e uma só cátedra. Todos são pastores, mas é anunciado um só rebanho, que deve ser apascentado por todos os Apóstolos em unânime harmonia.
(10) Aquele que não guarda esta unidade, proclamada também por Paulo, poderá pensar que ainda guarda a fé? Aquele que abandona a cátedra de Pedro, sobre o qual foi fundada a Igreja, poderá confiar que ainda está na Igreja?
5 - A IGREJA ÚNICA E UNIVERSAL: MUITOS SÃO OS RAIOS, UMA A LUZ...
(1) Esta unidade devemos guardar e exigir com firmeza, especialmente nós, bispos, que na Igreja presidimos, para dar prova de que o episcopado também é um e indiviso. Ninguém engane os irmãos com mentiras, ninguém corrompa a pureza da fé com pérfidos desvios.
(2) Uma só é a ordem episcopal e cada um de nós participa dela completamente. Mas a Igreja também é uma, embora, em seu fecundo crescimento, se vá dilatando numa multidão sempre maior.
(3) Assim muitos são os raios do sol, mas uma só é a luz, muitos os ramos de uma árvore, mas um só é o tronco preso à firme raiz. E quando de uma única nascente emanam diversos riachos, embora corram separados e sejam muitos, graças ao copioso caudal que recebem, todavia permanecem unidos na fonte comum.
(4) Se pudéssemos separar o raio do corpo do sol, na luz assim dividida já não haveria unidade. Quando se quebra um ramo da árvore, o ramo quebrado já não pode vicejar. Se separamos um regato da fonte, ele secará.
(5) Igualmente a Igreja do Senhor, resplandecente de luz, lança seus raios no mundo inteiro, mas a sua luz, difundindo-se em toda a parte, continua sendo a mesma e, de modo nenhum, é abalada a unidade do corpo.
(6) Na sua exuberante fertilidade, estende os seus ramos em toda a terra, derrama as suas águas em vivas torrentes, mas uma só é a cabeça, uma a fonte, uma a mãe, tão rica nos frutos da sua fecundidade. Do parto dela nascemos, é dela o leite que nos alimenta, dela o Espírito que nos vivifica.
6 - ÚNICA ESPOSA DE CRISTO: NÃO PODE TER DEUS POR PAI, QUEM NÃO TEM A IGREJA POR MÃE.
(1) A Esposa de Cristo não pode tornar-se adúltera, ela é incorruptível e casta [Cf Ef 5,24-31]. Conhece só uma casa, observa, com delicado pudor, a inviolabilidade de um só tálamo. É ela que nos guarda para Deus e torna partícipes do Reino os filhos que gerou.
(2) Aquele que, afastando-se da Igreja, vai juntar-se a uma adúltera, fica privado dos bens prometidos à Igreja. Quem abandona a Igreja de Cristo não chegará aos prêmios de Cristo. Torna-se estranho, torna-se profano, torna-se inimigo.
(3) Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por mãe. Como ninguém se pôde salvar fora da arca de Noé, assim ninguém se salva fora da Igreja [nota: aqui Cipriano fala dos obstinados que, conhecendo a verdade, insistem, por ódio ou comodismo pagão, em se apartar da Igreja de Cristo].
(4) O Senhor nos alerta e diz: "Quem não está comigo está contra mim, quem comigo não recolhe, dissipa" (Mt 12,30). Quem rompe a paz e a concórdia de Cristo trabalha contra Cristo. Quem faz colheita alhures, fora da Igreja, esse dissipa a Igreja de Cristo.
(5) Diz ainda o Senhor: "Eu e o Pai somos um" (Jo 10,30), e do Pai, do Filho e do Espírito Santo está escrito: "Estes três são um" (1Jo 5,7). Como poderá alguém pensar que esta unidade da Igreja, decorrente da própria firmeza da unidade divina, e tão conforme com este celeste mistério, pode ser rompida e sacrificada ao arbítrio de vontades opostas? Quem não observa esta unidade não observa a lei de Deus, não observa a fé do Pai e do Filho, não possui nem a vida, nem a salvação.
7 - A TÚNICA INCONSÚTIL DE CRISTO
(1) Este sacramento da unidade, este vínculo de concórdia inviolada e sem rachadura, é figurado também pela túnica do Senhor Jesus Cristo. Como lemos no Evangelho, ela não foi dividida, nem, de modo algum, rasgada, mas sorteada. Isto quer dizer que quem toma a veste de Cristo e tem a dita de se revestir do próprio Cristo [Rom 13,14; Gál 3,27], deve receber a sua túnica toda inteira e possuí-la intacta e sem divisão.
(2) Diz a divina Escritura: "Quanto à túnica, visto que, desde a parte superior, era feita de uma única tecedura, sem costura alguma, disseram: não a dividamos, mas lancemos-lhe a sorte para ver a quem toca" (Jo 19,23-24). A unidade da túnica derivava da sua parte superior - em nosso caso, do céu e do Pai celeste. Aquele que a recebia e guardava não podia rasgá-la de modo nenhum, de fato ela era resistente e sólida por ser constituída de um modo inseparável.
(3) Não pode possuir a veste de Cristo aquele que rasga e divide a Igreja de Cristo.
(4) O contrário aconteceu à morte de Salomão, quando o seu reino e o povo deviam ser divididos. O profeta Aías, indo ao encontro do rei Jeroboão no campo, cortou o seu manto em doze partes, dizendo: "Toma para ti dez partes, porque assim diz o Senhor: eis que eu divido o reino da mão de Salomão, a ti darei dez cetros e dois ficarão para ele, por causa do meu servo Davi e de Jerusalém, a cidade eleita em que eu pus o meu nome" (1Rs 11,30-36). Para separar as doze tribos de Israel, o profeta dividiu o seu manto.
(5) Mas o povo de Cristo não pode ser dividido, e por isso a sua túnica, que era um todo feito de uma só tecedura, não foi dividida por aqueles que a deviam possuir. Ficando uma só, bem firme na sua contextura, ela mostra a união e a concórdia do nosso povo, isto é, daqueles que são revestidos de Cristo. Por este sinal sagrado da sua veste, proclamou ele a unidade da Igreja.
8 - FIGURAS DO ANTIGO TESTAMENTO: RAABE, O CORDEIRO PASCAL
(1) Portanto quem será tão celerado e pérfido, tão louco pelo furor da discórdia, para pensar como possível ou até para ousar romper a unidade de Deus, a veste do Senhor, a Igreja de Cristo?
(2) Ainda uma vez nos avisa ele no Evangelho dizendo: "E haverá um só rebanho e um só pastor" (Jo 10,16). E como se pode pensar que, num mesmo lugar, existam muitos pastores e muitos rebanhos?
(3) O apóstolo Paulo, por sua vez, inculcando esta mesma unidade, suplica e exorta: "Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que todos digais as mesmas coisas e não se dêem cismas entre vós. Sede unidos no mesmo sentimento e no mesmo pensamento" (1Cor 1,10) E de novo: "Sustentando-vos mutuamente no amor, esforçando-vos por conservar a unidade do Espírito na união da paz" (Ef 4,2-3).
(4) Achas tu que alguém pode afastar-se da Igreja, fundar, a seu arbítrio, outras sedes e moradias diversas e ainda perseverar na vida? Ouve o que foi dito a Raabe, na qual era prefigurada a Igreja: "Recolhe teu pai, tua mãe, teus irmãos e toda a tua família junto de ti, na tua casa, e qualquer um que ouse sair fora da porta da tua casa, será ele próprio culpado da sua perda" (Jos 2,18-19).
(5) Igualmente o sacramento da Páscoa [antiga], como lemos no Êxodo, exigia que o cordeiro, morto como figura de Cristo, fosse comido numa só casa. Eis as palavras de Deus: "Seja comido numa só casa, não jogueis fora da casa carne alguma dele" (Ex 12,46). A carne de Cristo, o Santo do Senhor [Nota: "Sanctum Domini" O Santo do Senhor - era como os primeiros cristãos chamavam a Eucaristia - O Corpo e Sangue de Cristo Jesus], não pode ser jogado fora. Para os que nEle crêem, não há outra casa a não ser a única Igreja.
(6) O Espírito Santo anuncia e significa esta casa, esta morada da união dos corações, dizendo nos salmos: "Deus faz habitar na casa aqueles que são unânimes" (Sl 67,7). Na casa de Deus, na Igreja de Cristo, os moradores são unidos e perseveram na concórdia e na simplicidade.

II Parte:

9 - A POMBA, EXEMPLO DE SOCIABILIDADE E CONCÓRDIA
(1) Por isto também o Espírito Santo desceu em forma de pomba [Mt 3,16; Mc 1,10], animal simples e alegre, sem amargura alguma de fel, incapaz de se enfurecer; não morde, não arranha com as unhas. Prefere as moradias dos homens e gosta de habitar numa mesma casa. Quando criam, as pombas cuidam dos filhotes juntamente, quando viajam, voam pertinho umas das outras. Passam o tempo em tranqüilos arrulhos, manifestam a concórdia e a paz beijando-se no rosto. Enfim, em todas as coisas seguem a lei da boa harmonia.
(2) Esta é a simplicidade que deve reinar na Igreja, essa a caridade que devemos realizar: o amor fraternal imite as pombas, a mansidão e a brandura sejam iguais às dos cordeiros e das ovelhas.
(3) Como podem estar no coração de um cristão a ferocidade dos lobos, a raiva dos cães, o veneno mortífero das serpentes ou a crueldade sanguinária das feras?
(4) Devemos alegrar-nos quando os que têm esses sentimentos se separam da Igreja. Assim as pombas e as ovelhas de Cristo não serão contagiadas pela sua maldade e pelo seu veneno. Não podem conciliar-se e juntar-se amargura e doçura, trevas e luz, chuva e céu sereno, guerra e paz, esterilidade e fecundidade, secura e manancial, tempestade e bonança.
(5) Não acreditem que os bons possam deixar a Igreja: não é o trigo que o vento carrega, o furacão não arranca as árvores que têm sólidas raízes. Ao contrário são as palhas vazias que a tormenta agita, são as árvores vacilantes que a força dos turbilhões abate. Contra esses o apóstolo São João manifesta a sua repulsa, dizendo: "Saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, sem dúvida teriam ficado conosco" (1Jo 2,19).
10 - ORIGEM E MALDADE DAS HERESIAS
(1) A origem de onde nasceram freqüentemente e continuam nascendo as heresias é a seguinte: há mentes perversas e sem paz, que, discordando em sua perfídia, não podem suportar a unidade. O Senhor, por seu lado, respeita a liberdade do arbítrio humano, permite e tolera que isto aconteça, a fim de que o crisol da verdade purifique os nossos corações e as nossas mentes, e, na provação, resplandeça com luz inequívoca a integridade da fé.
(2) O Espírito Santo nos previne, por meio do Apóstolo: "Convém que haja heresias para que entre vós se tornem manifestos os que resistem à prova" (1Cor 11,19). Assim, aqui mesmo, antes do dia do juízo, são divididas as almas dos justos e dos perversos e as palhas são separadas do trigo.
(3) Esses são os que, por própria iniciativa e sem chamamento divino, se põem a encabeçar temerários grupinhos. Contra toda a lei da ordenação, se constituem superiores e, sem que ninguém lhes dê o episcopado, se atribuem a si mesmos o nome de bispos. A eles faz alusão o Espírito Santo, no Salmo, falando dos que estão sentados em cátedras de pestilência, porque são peste infecciosa da fé. Mestres na arte de corromper a verdade, eles enganam com bocas de serpente, vomitando de suas línguas pestilentas peçonhas mortíferas. Os seus discursos brotam como chaga cancerosa, o trato com eles deixa no fundo de cada coração um veneno mortal.
11 - O BATISMO CISMÁTICO
(1) Contra esses homens brada o Senhor, para afastar ou retirar deles o seu povo desviado: "Não escuteis os sermões dos pseudo-profetas, porque vivem iludidos pelas alucinações do seu coração. Falam, mas não as palavras do Senhor. Aos que rejeitam a palavra de Deus dizem eles: tereis a paz, vós e todos os que andam segundo as próprias vontades. Não virá mal algum, ainda sobre aqueles que seguem os erros do próprio coração. Eu não lhes falei e eles vão "profetando". Se tivessem atendido ao meu conselho, ouvido as minhas palavras e as tivessem ensinado ao meu povo, eu os teria convertido dos seus perversos pensamentos" (Jer 23,16-22).
(2) E de novo fala deles o Senhor: "Abandonaram a mim, que sou a fonte da água viva, e escavaram para si covas escuras, que nem podem dar água" (Jer 2,13 [Nota: Tradução literal do texto latino antigo. As versões tiradas do hebraico dizem: "cisternas fendidas, que não retêm a água"]).
(3) Enquanto não pode haver senão um Batismo, eles pensam que podem batizar. Abandonaram a fonte da vida e ainda prometem a graça da água que dá a vida e a salvação. Lá os homens não são purificados, mas, ao contrário, mais poluídos. Lá os pecados não são perdoados, mas, antes, aumentados. Aquele nascimento não gera filhos para Deus, mas para o demônio [Nota: Esta recusa do batismo dos hereges é conseqüência do pensamento vigente. Este pensamento afirmava que qualquer violação na unidade da Igreja significava perversão total da fé. Hoje, a Igreja aceita o batismo das denominações protestantes tradicionais].
(4) Os que pretendem nascer por meio da mentira não recebem absolutamente as promessas da verdade. Gerados pela perfídia, não alcançam a graça da fé. Aqueles que, no delírio da discórdia, quebraram a paz do Senhor, não podem chegar ao prêmio da paz.
12 - "ONDE DOIS OU TRÊS..." (MT 18,20)
(1) Alguns se enganam a si mesmos com uma presunçosa interpretação das palavras do Senhor, que disse: "Onde quer que se encontrem dois ou três reunidos em meu nome, eu mesmo estou com eles" (Mt 18,20).
(2) São falsificadores do Evangelho e intérpretes mentirosos. Apegam-se ao que é dito depois, esquecendo o que foi dito antes, lembram-se de uma parte da frase e, astutamente, deixam do lado a outra. Assim como eles se separaram da Igreja, do mesmo modo truncam o sentido de uma única sentença.
(3) De fato, o que queria dizer nosso Senhor? Para inculcar aos seus discípulos a união e a paz, diz ele: "Eu vos afirmo que, se dois de vós concordarem na terra em pedir qualquer coisa, ela lhes será outorgada por meu Pai que está nos céus" (Mt 18,19). E continua: "Onde quer que se encontrem dois ou três reunidos em meu nome, eu mesmo estou com eles", mostrando que o que mais vale na oração não é o número dos que oram, mas a sua união de espírito.
(4) "Se dois de vós concordarem na terra", diz ele. Antes exige a união, põe na frente a paz: o seu primeiro e mais firme preceito é que entre nós haja acordo. E como poderá estar de acordo com alguém aquele que está em desacordo com o corpo da Igreja e a totalidade dos irmãos?
(5) Como poderão estar reunidos dois ou três em nome de Cristo, se é patente que estão separados de Cristo e do seu Evangelho? De fato não somos nós que nos apartamos deles, mas eles de nós. E quando, em seguida, formando entre si vários grupos, deram origem a heresias e cismas, abandonaram a cabeça e a fonte da verdade.
(6) O Senhor quer falar da sua Igreja e dirige aquelas palavras àqueles que estão na Igreja, dizendo que, se dois ou três deles estiverem concordes, como ele ensinou e mandou, e se reunirem em um só espírito para rezar, embora sejam só dois ou três, impetrarão da majestade de Deus o que pedem.
(7) "Onde quer que se encontrem reunidos em meu nome dois ou três, eu mesmo estou com eles", quer dizer com os simples, com os pacíficos, com os que temem a Deus e observam os seus preceitos. Com esses, ainda que não fossem mais do que dois ou três, prometeu que estaria, assim como esteve com os três jovens na fornalha ardente, e, porque permaneciam simples com Deus e unidos entre si, até no meio das chamas, os animou com uma brisa de orvalho (Dan 3,50).
(8) Do mesmo modo esteve presente aos dois Apóstolos encerrados na cadeia, porque eram simples e unânimes. Ele mesmo abriu as portas do cárcere e os conduziu de novo à praça para que pregassem à multidão a palavra que tão fielmente anunciavam.
(9) Por conseguinte, quando o Senhor coloca entre os seus preceitos estas palavras: "Onde quer que se encontrem dois ou três reunidos em meu nome, eu mesmo estou com eles", não quer separar os homens da Igreja, pois ele mesmo instituiu e formou a Igreja, mas ao contrário, repreendendo os pérfidos pela discórdia e encarecendo, com a sua própria voz, a paz aos fiéis, quer mostrar que ele está mais com dois ou três que oram unânimes, do que com muitos que oram na dissidência, e que obtém mais a prece concorde de poucos que a oração sediciosa de muitos.
13 - NÃO ACHARÁ A DEUS PROPÍCIO QUEM NÃO ESTÁ EM PAZ COM O IRMÃO
(1) Por isto, quando ensinou o modo de orar, acrescentou: "Quando estiverdes em pé para orar, perdoai, se por acaso tendes mágoa contra alguém, a fim de que o vosso Pai que está nos céus vos perdoe também os pecados" (Mc 11,25). E se alguém vier ao sacrifício, estando de mal com alguém, ele o afasta do altar e ordena que, antes, se ponha de acordo com o irmão, e só depois volte em paz para oferecer a Deus a sua dádiva [Cf Mt 5,24].
(2) Deus não olhou aos presentes de Caim [Gen 4,5], porque aquele que, pelo rancor da inveja, não tinha paz com o irmão, não podia encontrar a Deus propício.
(3) Que espécie de paz podem pretender os inimigos dos irmãos? Que sacrifício pensam eles oferecer, enquanto não são que rivais dos sacerdotes? Julgam que Cristo esteja presente nas suas reuniões, enquanto se reúnem fora da Igreja de Cristo?
14 - NEM O MARTÍRIO LAVA A MANCHA DA DISCÓRDIA
(1) Ainda que esses homens fossem mortos pela confissão do nome cristão, o seu sangue não lavaria esta mancha. O pecado da discórdia é tão grande e tão imperdoável, que não se apaga nem pelos tormentos. Não pode ser mártir quem não está na Igreja, não pode alcançar o Reino quem abandonou aquela que nasceu para reinar.
(2) Cristo nos deu a paz. Ele nos mandou que fôssemos concordes e unidos, ordenou que os laços do amor e da caridade fossem conservados intactos e sem rachadura. Não pode iludir-se de ser mártir aquele que não conservou a caridade fraterna.
(3) O apóstolo Paulo ensina e testemunha isto mesmo quando diz: "Ainda que eu tivesse fé para remover as montanhas, mas não tivesse a caridade, eu nada seria, ainda que distribuísse em alimento dos pobres tudo o que é meu, e entregasse o meu corpo às chamas, mas não tivesse a caridade de nada adiantaria. A caridade é magnânima, a caridade é benigna, a caridade não rivaliza, não faz mal, não se pavoneia, não se irrita, não pensa com maldade, tudo ama, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais termina" (1Cor 13,1-9).
(4) A caridade nunca termina, ela estará sempre no Reino, durará eternamente pela unidade dos irmãos em mútua harmonia. A discórdia não entra no Reino dos céus. Quem, com pérfida divisão, violou a caridade de Cristo, não poderá chegar aos prêmios do mesmo Cristo, que disse: "Este é o meu mandamento, que vos ameis mutuamente como eu vos amei" (JO 15,12).
(5) Quem vive sem caridade está sem Deus. Eis a voz do bem-aventurado apóstolo João: "Deus é amor. Quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele" (1Jo 4,16). Não podem permanecer com Deus os que não quiseram estar unidos na Igreja de Deus. Ainda que, lançados no fogo, fossem consumidos pelas chamas ou perdessem a vida sendo expostos às feras, tudo isto não seria uma coroa da fé, mas, antes, um castigo da sua perfídia, não seria o desfecho glorioso de uma vida religiosa intrépida, mas um fim sem esperança.
(6) Um homem assim poderia ser morto, mas não coroado. Ele confessa que é cristão do mesmo modo que o diabo, muitas vezes, engana dizendo ser ele o Cristo. Escutemos o aviso do Senhor: "Muitos virão com o meu nome, dizendo: sou eu o Cristo, e enganarão a muitos" (Mc 13,16). Como o diabo não é Cristo, embora tome este nome, assim não pode passar por cristão aquele que não permanece na verdade do Evangelho e na fé de Cristo.
15 - A LEI DO AMOR E A UNIDADE
(1) É certamente coisa incomum e admirável profetizar, expulsar demônios e fazer obras portentosas aqui na terra, mas quem faz todas essas coisas não conseguirá o Reino celeste se não anda no caminho reto e certo.
(2) Ouçamos ainda o Senhor: "Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não te lembras que em teu nome profetizamos e em teu nome expulsamos demônios e em teu nome fizemos obras portentosas? Eu porém lhes direi: jamais vos conheci, apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade" (Mt 7,21-23). É necessária a justiça para que alguém possa ser premiado por Deus. É necessário obedecer aos seus mandamentos e aos seus avisos, para que os nossos méritos alcancem a recompensa.
(3) O Senhor, no Evangelho, querendo mostrar-nos em breve resumo a senda da nossa fé e da nossa esperança, disse: "O Senhor, teu Deus, é um só", e continua: "Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças" (Mc 12,29-31). "Eis o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a ele: amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Nestes dois preceitos funda-se toda a lei e também os profetas" (Mt 22,39-40).
(4) Com a sua autoridade ensinou, ao mesmo tempo, a unidade e o amor. Em dois preceitos compendiou a lei e todos os Profetas. Mas que unidade observa, que amor pensa praticar aquele que, como doido pelo furor da discórdia, divide a Igreja, destrói a fé, perturba a paz, aniquila a caridade, profana o Sacramento?
16 - ESSAS ABERRAÇÕES FORAM PREDITAS
(1) Este mal, ó irmãos fidelíssimos, já tinha começado algum tempo atrás, mas agora, como triste calamidade, foi crescendo dia a dia e a venenosa praga da heresia e dos cismas aparece e pulula sempre mais. Assim deve acontecer no fim do mundo, como nos vaticina e nos avisa o Espírito Santo por meio do Apóstolo: "Nos últimos dias, diz ele, chegarão tempos difíceis e haverá homens que só buscam os próprios gostos, soberbos, arrogantes, avarentos, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, desalmados, sem afeição e sem respeito de compromisso, caluniadores, incontinentes, violentos, sem nenhum amor ao bem, traidores, atrevidos, estupidamente altivos, amando mais os prazeres que Deus, ostentando um verniz de religiosidade, mas conculcando todo valor religioso. Deles são os que se insinuam nas casas e conquistam mulherzinhas carregadas de pecados, que se deixam levar por várias volúpias e se mostram sempre curiosos de saber, mas nunca chegam ao conhecimento da verdade. E como Jamnes e Mambres fizeram resistência contra Moisés, assim estes resistem à verdade. Mas não serão bem sucedidos, porque a sua incapacidade será a todos manifesta, como aconteceu àqueles" (2Tim 3,1-9).
(2) Tudo o que tinha sido preanunciado se está cumprindo e, enquanto se aproxima o fim do mundo, tudo se realiza nas pessoas e nos acontecimentos.
(3) O adversário está solto. Cada vez mais, o erro vai espalhando os seus enganos. A insensatez gera orgulho, arde a inveja, a cobiça chega até à cegueira, a impiedade deprava, a soberba incha, a discórdia exaspera, a ira enfurece.

III Parte:

17 - NÃO CEDER AO ESCÂNDALO. EVITAR OS HEREGES
(1) Porém não nos impressione nem perturbe essa desmedida e temerária perfídia de muitos. Ao contrário, torne-se mais forte a nossa fé ao constatarmos a verdade do que foi profetizado. Alguns fizeram-se traidores, porque assim fora predito; os demais irmãos, em virtude da mesma profecia, acautelem-se contra essas coisas, escutando a voz do Senhor, que diz: "Vós, porém, acautelai-vos, porque eis que eu vos predisse tudo" (Mc 13-23).
(2) Evitai, pois, eu vo-lo peço, irmãos, esses homens e repeli, de vosso lado e de vossos ouvidos suas perniciosas conversas, como se repele um contágio mortífero. Está escrito: "Cerca os teus ouvidos com uma sebe de espinhos e não ouças a língua maldosa" (Eclo 28,24). E ainda: "As péssimas conversas corrompem até as pessoas de boa índole" (1Cor 15,33). O Senhor nos recomenda que evitemos essa gente. "São cegos, diz ele, e guias de cegos. Quando é um cego que conduz outro cego, caem juntos na fossa" (Mt 15,14).
(3) Convém estar longe e fugir de qualquer um que se separou da Igreja. É um transviado, um culpado, ele se condena por si próprio [Cf Ti 3,11]. Poderá pensar que está com Cristo aquele que está tramando contra os sacerdotes de Cristo e se separa da comunidade do seu clero e do seu povo? Ele levanta armas contra a Igreja e resiste às ordens de Deus. Adversário do altar, rebelde contra o Sacrifício de Cristo, traidor na fé, sacrílego na religião, servo intratável, filho ímpio, irmão inimigo, despreza os bispos e abandona os sacerdotes de Deus e ousa erguer um outro altar, pronunciar com voz ilícita uma outra prece, profanar, com falsos sacrifícios, a Hóstia do Senhor, e esquece que quem vai contra as ordens de Deus será punido com os divinos castigos pela sua atrevida audácia.
[Nota: Parece até intolerância de S. Cipriano, mas defender a fé não é intolerância. A culpa não é tanto estar fora da Igreja "in-fidelis", mas em ter saído da Igreja e teimar numa fé espúria e pervertida "perfídia". S. Cipriano deseja defender os que permanecem na Igreja, das falsas doutrinas dos hereges, e não incitar um preconceito gratuito].
18 - CASTIGOS DOS PROFANADORES DO CULTO
(1) Assim Coré, Datã e Abirão receberam, sem demora, o castigo da sua presunção, porque, violando as ordens de Moisés e do sacerdote Aarão, pretenderam usurpar o direito de oferecer sacrifícios [Cf Num 16,31-35]. A terra perdeu a sua firmeza, fendeu-se numa profunda voragem, e o chão, assim aberto, os engoliu vivos e em pé. A justiça indignada de Deus não atingiu só os autores daquele gesto, mas também os outros duzentos e cinqüenta, seus companheiros, que foram cúmplices e solidários com eles. De repente saiu do Senhor um fogo punitivo e os consumiu. Isto deve valer como demonstração e sinal de que foi ofensa contra Deus tudo o que aqueles perversos tentaram, com suas vontades humanas, para frustrar as ordens do próprio Deus.
(2) Assim aconteceu também ao rei Ozias, quando segurou o turíbulo e, com violência, pretendeu oferecer ele mesmo o incenso, violando a lei de Deus e desobedecendo ao sacerdote Azarias, que a isto se opunha [Cf 2Crôn 26,16-20]. Lá mesmo foi confundido pela divina indignação e acometido por uma espécie de lepra na fronte. Pela sua ofensa a Deus, foi punido justamente naquela parte do corpo, onde recebem o sinal (da cruz) os eleitos de Deus.
(3) Também os filhos de Aarão, por ter colocado no altar um fogo profano, contra os preceitos do Senhor, foram mortos no mesmo instante pela divina vingança [Cf Lev 10,1-2; Num 3,4].

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19 - MENOS GRAVE É O PECADO DOS LAPSOS*
(1) São esses os exemplos que seguem e imitam os que buscam doutrinas estranhas, introduzem ensinamentos de invenção humana e desprezam a divina tradição. A eles aplicam-se as repreensões e as censuras do Evangelho: "Rejeitais o mandamento de Deus para apegar-vos à vossa própria tradição (pagã)" (Mc 7,90).
(2) Este crime é pior do que aquele que se pensa terem cometido os lapsos, ao menos se falarmos dos que estão arrependidos e rogam a Deus perdão do seu pecado, dispostos a dar completa satisfação. Os lapsos, com súplicas, procuram a Igreja, os cismáticos combatem-na. Os primeiros podem ter sido vítimas de alguma pressão, os segundos erram no pleno uso da sua liberdade. O lapso, pecando, se prejudicou unicamente a si mesmo, ao passo que aquele que tenta criar heresias e cismas engana a muitos, arrastando-os à sua seita. Lá há detrimento de uma só alma, aqui o perigo é de muitos. O lapso reconhece que certamente pecou, disto lamenta-se e chora, o cismático, cheio de orgulho no seu coração e comprazendo-se dos seus próprios erros, arranca os filhos à mãe, afasta, com aliciamentos, as ovelhas do Pastor, arrasa os divinos Sacramentos.
(3) O lapso pecou só uma vez, o outro continua pecando a cada dia. Por fim, o lapso, mais tarde, poderá enfrentar o martírio e conseguir as promessas do Reino, o cismático, ao contrário, se for morto enquanto está fora da Igreja, não alcançará os prêmios da Igreja.
[nota: * Lapsos era o nome dado aos cristãos que durante a perseguição tinham sacrificado incenso aos ídolos, o que significava renúncia à fé. Para serem reintegrados na comunidade da Igreja deviam se submeter às penitências prescritas].
20 - CONFESSORES* QUE NÃO PERSEVERARAM
(1) Não deveis estranhar, irmãos diletíssimos, que até entre os confessores haja alguns que caíram nestes crimes. Acontece também que alguns deles cometam outros pecados graves e vergonhosos. A confissão da fé não torna uma pessoa imune das ciladas do demônio. A quem ainda vive neste mundo ela não comunica uma perpétua segurança contra as tentações, os perigos e o ímpeto dos ataques mundanos. Se assim fosse, não veríamos, em confessores, os roubos, os estupros e os adultérios, que agora, com imensa tristeza, devemos lamentar em alguns deles.
(2) Quem quer que seja um confessor, ele não poderá ser maior, melhor e mais amigo de Deus que Salomão. Entretanto, este, durante o tempo em que se manteve nos caminhos do Senhor, conservou a benevolência com que o mesmo Senhor o tinha favorecido, mas quando se desviou destes caminhos, perdeu também a benevolência do Senhor [3Rs 11,9].
(3) Por isto diz a Escritura: "Segura o que tens, para que um outro não tome a tua coroa" (Ap 3,11). Se lá o Senhor ameaça tirar a alguém a coroa da justiça, é sinal que quem renuncia à justiça fica privado também da coroa.
[nota: * Os confessores eram os cristão que afirmavam a fé perante os perseguidores, e por um motivo ou outro, não eram condenados a morte. Alguns deles, cheios de soberba pelo ato de fé que praticou, achavam que tinham o direito de dar o aval aos lapsos (ver nota acima) e reintegrá-los na comunidade sem as penitências. Alguns confessores se tornaram cismáticos].
21 - A HONRA DA "CONFISSÃO" AUMENTA O DEVER DO BOM EXEMPLO
(1) A confissão da fé é um preâmbulo da glória, mas não é ainda a posse da coroa. Não é a glória definitiva, mas só o início do mérito. Está escrito: "O que perseverar até o fim, este será salvo" (Mt 10,22). Tudo pois o que fazemos antes do fim é só um passo com o qual vamos subindo ao monte da salvação, mas só ao fim da subida chegaremos à posse perfeita do cume.
(2) Trata-se de um confessor? Ora, depois da confissão da fé, o perigo torna-se maior, porque o adversário está mais enraivecido contra ele.
(3) É confessor? Por isto, mais do que nunca, deve permanecer fiel ao Evangelho do Senhor, ele que pelo Evangelho conseguiu esta honra. Diz o Senhor: "A quem muito é dado, muito será pedido e a quem é concedida maior dignidade, deste exigem-se maiores serviços" (Lc 12,48). Ninguém se deixe levar à perdição pelo mau exemplo de algum confessor. Ninguém aprenda, do seu modo de proceder, a injustiça, a arrogância ou a perfídia.
(4) É confessor? Seja humilde e tranqüilo em todo o seu comportamento, seja disciplinado e modesto, de modo que, como é chamado confessor de Cristo, imite também aquele Cristo que confessa "Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado" (Lc 18,14). Assim disse ele, e foi exaltado pelo Pai, porque, sendo ele a Palavra, a Virtude e a Sabedoria de Deus Pai, se humilhou a si mesmo na terra. E como poderia amar a altivez, ele que, com a sua lei nos preceituou a humildade, e, em prêmio da sua humildade, recebeu do Pai o nome mais sublime? [Cf Flp 2,9]
(5) Alguém foi confessor de Cristo? Muito bem, mas, depois, por sua culpa, não sejam blasfemadas a majestade e a santidade do próprio Cristo. A língua que confessou a Cristo não seja maldizente nem sediciosa, não se ouça vociferando em altercações e brigas; depois de palavras tão divinas de louvor não vá vomitando veneno de serpente contra os irmãos e contra os sacerdotes de Deus.
(6) Em suma, se alguém, depois da confissão, se tornou culpável e detestável, se aviltou a sua confissão com maus comportamentos, se manchou a sua vida com torpezas indignas, se, afinal, abandonou a Igreja, na qual se tornara confessor, e, quebrando a harmonia da unidade, trocou a fé de então com a perfídia, um tal homem não pode lisonjear-se, presumindo da sua confissão, de ser como que predestinado ao prêmio da glória. Ao contrário, por isto mesmo, aumentaram seus títulos para o castigo.
22 - ELOGIO DOS CONFESSORES
(1) Vemos também que chamou a Judas entre os Apóstolos, e este Judas, em seguida, traiu o Senhor. A fé e a perseverança dos Apóstolos não esmoreceram pelo fato que Judas traidor tinha pertencido ao seu grupo. Igualmente em nosso caso: a santidade e a dignidade dos confessores não ficam destruídas, se naufragou a fé em alguns deles.
(2) O bem-aventurado apóstolo Paulo diz numa das suas cartas: "Se alguns decaíram da fé, será que a sua infidelidade tornou vã a fidelidade de Deus? De modo algum. De fato, Deus é verídico e todo homem é mentiroso" (Rom 3,3-4; Sl 115,11).
(3) A maioria e a parte melhor dos confessores mantém-se no vigor da sua fé e na verdade da lei e da disciplina do Senhor. Lembrando-se de ter alcançado a graça e a benevolência de Deus na Igreja, não se afastam da paz da mesma Igreja. Nisto merecem mais amplo louvor pela sua fé, porque, desligando-se da perfídia daqueles que já foram seus companheiros na confissão, resistiram ao contágio do mal. Iluminados pela luz verdadeira do Evangelho, brilhando na pura e cândida claridade do Senhor, mostram-se tão dignos de encômio na conservação da paz de Cristo, quanto o foram no combate, quando se tornaram vencedores do demônio.
23 - APELO AOS QUE FORAM ENGANADOS
(1) Quanto a mim, irmãos diletíssimos, não deixo de exortar e insistir, porque desejo que, se for possível, nenhum dentre os irmãos pereça, e a mãe feliz (a Igreja) abranja no seu regaço o seu povo, unido na concórdia como um só corpo. Se, todavia, este salutar conselho não consegue reconduzir ao caminho da salvação certos chefes de cismas e certos autores de dissensão, preferindo eles obstinar-se em sua cega demência, ao menos os demais, os que foram surpreendidos na sua simplicidade, ou se deixaram desviar por algum equívoco, ou foram enganados pelo ardil de uma astúcia dissimulada, ao menos vós sacudi os laços falaciosos, livrai dos erros os vossos passos extraviados, sabei reconhecer o caminho reto que conduz ao céu.
(2) Ouvi a voz do Apóstolo, que clama: "Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, nós vos mandamos, diz ele, que vos afasteis de todos os irmãos que andam desordenadamente e não segundo a tradição que receberam de nós" (2Tes 3,6). E de novo: "Ninguém vos engane com vãs palavras. Por causa disto veio a ira de Deus sobre os filhos da contumácia. Não estejais, pois, ao lado deles" (Ef 5,6-7).
(3) Deveis evitar os delinqüentes e até fugir deles, para que não aconteça que, juntando-se aos que trilham os caminhos do erro e do crime, alguém se desvie também da verdade e se torne culpado de igual delito.
(4) Deus é um, Cristo é um, uma é a sua Igreja, uma a fé e o povo (cristão) é também um, aglutinado pela concórdia como na compacta unidade de um corpo. Esta unidade não pode ser quebrada. Um corpo não pode ser dividido, desarticulando as suas junturas. Não pode ser reduzido a pedaços, dilacerando e arranhando as suas vísceras. Tudo o que se separa do centro vital não pode continuar a viver ou a respirar porque fica privado do alimento indispensável à vida.
24 - BEM-AVENTURADOS OS PACÍFICOS
(1) O Espírito Santo assim nos fala: "Quem é o homem que quer viver e deseja ver dias excelentes? Refreia do mal a tua língua, e os teus lábios não falem insidiosamente. Evita o mal e faze o bem, busca a paz e segue-a" (Sl 33,13-15). O filho da paz deve buscar a paz, deve procurá-la. Quem conhece e ama o vínculo da caridade deve guardar a sua língua do flagelo da dissensão.
(2) O Senhor, já próximo à paixão, entre outros preceitos e ensinamentos salutares, acrescentou o seguinte: "Eu vos entrego a paz, eu vos dou a minha paz" (Jo 14,27). Esta é a herança que nos deixou. Todos os dons e todos os prêmios das suas promessas estão incluídos nisto: a inviolabilidade da paz.
(3) Se somos co-herdeiros de Cristo [Cf Rom 8,17], permaneçamos na paz de Cristo. Se somos filhos de Deus, sejamos pacíficos. "Bem-aventurados os pacíficos, diz, porque serão chamados filhos de Deus" (Mt 5,9). Convém, pois, que os filhos de Deus sejam pacíficos, mansos de coração [Cf Mt 11,29], simples quando falam, concordes nos afetos, sempre ligados uns aos outros pelos laços da unidade de espírito.
25 - O EXEMPLO DOS PRIMEIROS CRISTÃOS
(1) Essa unidade reinou ao tempo dos Apóstolos e a nova plebe, o povo dos que acreditaram, guardava os preceitos do Senhor e ficava fiel à sua caridade. Prova-o a divina Escritura, dizendo: "A multidão daqueles que acreditaram se comportava como se fossem todos uma só alma e uma só mente" (At 4,32).
(2) E antes: "Estavam perseverando todos unânimes na oração com as mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos" (At 1,14). Por isto oravam de modo eficaz e podiam confiar em alcançar o que estavam pedindo à misericórdia divina.
26 - EXORTAÇÃO PARA UMA VIDA CRISTÃ INTEGRAL
(1) Entre nós, ao contrário, esta união está demasiado relaxada, e ao mesmo tempo aparece muito enfraquecida a generosidade nas obras (boas). Então vendiam as suas casas e as suas propriedades e entregavam o preço aos Apóstolos, para que fosse distribuído aos pobres: assim colocavam seus tesouros no céu [Cf Mt 6,19]. Hoje nem se dão os dízimos dos patrimônios e, enquanto o Senhor diz "vendei" [Cf Lc 12,33], nós preferimos comprar e possuir mais. Como, entre nós, murchou o vigor da fé, como esmoreceu a força daqueles que crêem!
(2) Por isto o Senhor, falando destes nossos tempos, diz no Evangelho: "Quando vier o Filho do homem, pensas que encontrará fé na terra?" (Lc 18,8). Vemos que está acontecendo o que ele predisse. No que diz respeito ao temor de Deus, à lei da justiça, ao amor, às obras, não há mais fé. Ninguém se preocupa com as coisas que hão de vir, ninguém pensa no dia do Senhor, na ira de Deus, nos futuros suplícios dos incrédulos, nos eternos tormentos destinados aos pérfidos. Se crêssemos, a nossa consciência teria medo de tudo isto. Se não temos medo é sinal que não cremos. Quem acredita se acautela, quem se acautela se salva.
(3) Despertemos, irmãos diletíssimos, quebremos o sono da inércia rotineira e, por quanto for possível, sejamos vigilantes em guardar e cumprir os preceitos do Senhor. Sejamos prontos, como ele seja, quando diz: "Estejam cingidos os vossos rins, e as lâmpadas acesas nas vossas mãos, e vós sede semelhantes a homens que esperam o seu dono, quando voltar das núpcias, para lhe abrirem logo que ele chegar e bater. Bem-aventurados os servos que o Senhor, chegando, encontrar vigilantes" (Lc 12,35-37). É necessário que estejamos cingidos, a fim de que, quando vier o dia da partida, não sejamos surpreendidos cheios de impedimentos e de embaraços. Fique sempre viva a nossa luz e brilhe em boas obras, para nos guiar da noite deste mundo aos esplendores da claridade eterna. Sempre solícitos e cautos, fiquemos à espera da chegada repentina do Senhor. Quando ele bater, encontre a nossa fé vigilante com uma tal vigilância que mereça receber o prêmio do mesmo Senhor.
(4) Se forem observados esses mandamentos, se forem postas em prática essas exortações, não acontecerá que sejamos vencidos, no sono, pela falácia do demônio, mas, como servos bons e vigilantes, reinaremos com Cristo glorioso.

 quinta parte livro são Cipriano 
V I P A R T E
QUIROMANCIA
TEU DESTINO NA PALMA DA TUA MÃO

O estudo das linhas das mãos existe desde a mais remota antiguidade. Sempre baseado na observação dos fatos, em experiências. Nasceu na Ásia, como ciência. Chamava-se então quiromancia. Era mais uma adivinhação do que futuro pelo exame da palma da mão do que uma filosofia. De concreto, só se sabia que as papilas digitais diferiam de pessoa para pessoa. Por isso, aqueles que assinar não sabia, firmavam seus documentos com o polegar. E a datiloscopia é usada até hoje por todos os povos. Da mesma forma, as linhas da mão são dispostas de maneira diferente, não havendo coincidência, nem sequer, nas duas mãos de uma mesma pessoa.
De posse destas descobertas, a quiromancia saiu pelo mundo em busca de novas teorias. Viajou bastante. Esteve na Grécia, conheceu Roma e seu esplendor. Cresceu em sabedoria, deixou de ser uma simples adivinhação.
Mudou de nome, passou a ser quirosofia, estudo sério das linhas da mão. Para um quirósofo a leitura é como um filme, já revelado. O passado e o futuro deixam de ser um segredo.
Os sulcos da mão são os negativos da alma, do caráter, dos sentimentos mais íntimos de cada um. O quirósofo apenas revela o filme.
As suas mãos, com seus milhões de sinais, sabem tudo sobre você. Seus pensamentos, tristezas e alegrias, as esperanças. Todos os sonhos e frustrações. O seu caráter. Dele depende o seu futuro e é ele que forma, aos poucos, as suas mãos.
Assim como os traços fisionômicos, os sinais mudam com a idade, as emoções, os sofrimentos. Alguns deixam marcas indeléveis, outros parecem desaparecer com o tempo. Vão sendo substituídos por outros, diferentes. Tornam-se invisíveis, ficam escondidos nas dobras pequeninas dos que os sucedem.
E de repente, você cerra o punho, contrai a.ponta do dedo, estica um músculo qualquer. Tudo inconscientemente. São gestos pequenos, sem muita importância, que se multiplicam. Acentuam e alteram as linhas da sua mão. O cérebro pensa, as mãos vão agindo. O pensamento se oculta nas palavras mas se trai na ação. A mão registra este mesmo pensamento, sem disfarce, como ele é.
Estudos pormenorizados revelaram que cada emoção ou pensamentos produz contrações musculares na palma da mão. Esqueceu o nome de um livro? Sim, aquele mesmo que terminou de ler ontem. E enquanto tenta se lembrar, bate com a palma da mão na testa, como se pudesse escutar ou receber alguma comunicação interior. Este gesto inconsciente e aparentemente isolado, sem maiores conseqüências, indica a grande atuação das mãos sobre o seu cérebro. E, ao mesmo tempo, modifica, acentua ou faz surgir um novo sinal. Diferente, especial.
Tidas as mãos possuem três tipos de sinais. As linhas básicas, de lentas transformações, percebidas apenas ao fim de cada sete anos, na mulher e de nove, no homem.
Outros, entretanto, aparecem e desaparecem de sete em sete meses, na mulher e de nove em nove, no homem. E, finalmente, o terceiro tipo. Aparecem e desaparecem em uma, sete, nove semanas ou meses. Por exemplo, as manchas brancas e pretas da sua mão ou os pontos fundos e côncavos das suas unhas.
Assim, cada vez que você muda seu modo de pensar e de sentir, sua vida profissional e afetiva, mudam também as suas mãos.
Os sinais podem ser de três tipos: comuns, simples ou positivos.
Comuns — são os mais conhecidos. — Aparecem em quase Vicias as mãos.
Não tem mais segredos para ninguém.
Simples — sempre estão sozinhos. — Não se misturam com ninguém, são fáceis de reconhecer.
Positivos — de vários sentidos, ao mesmo tempo. —Um sempre, importante e de valor fixo, e o valor dos restantes dependendo dos outros, à sua volta.
Todos eles oferecem numerosas variantes. De acordo com a zona em que se encontram, cor, ligação ou vizinhança com outros sinais, podem também mudar o seu sentido. Portanto, não se arrisque, não tire conclusões precipitadas. Estude bem antes, todos os pormenores.
DIVISÃO ASTROLÓGICA DA MÃO
A mão é dividida astrologicamente em várias partes e cada uma delas tem um astro patrono. Assim, o dedo mínimo é de Mercúrio, o anular do Sol, o médio de Saturno, o indicador de Júpiter e o polegar de Urano.
Os tipos de mão são correspondentes aos astros dos signos do Zodíaco. Mão redonda, branca, gorda e mole, com polegar curto, é característica do signo de Câncer, regido pela Lua. Mão redonda, branca, úmida, com dedos pontudos, marca o signo de Peixes, regido por Netuno. Uma mão retangular, firme e forte com os dedos retos, indica o signo de Sagitário, comandado por Júpiter. Mão raciosamente ovalada, 'rosada, com covinhas e os dedos muito lisos, evidencia a marca de Vênus e os signos de Touro e Libra. Escorpião tem mãos retangulares, arredondadas e dedos firmes, o astro regente é Plutão. A mão de Marte é quadrada, vermelha e seca, os dedos são carnudos, o signo é Aries. Capricórnio tem mão seca, comprida, com dedos nodosos e longos. O regente é Saturno. A mão do Aquário é longa, maleável e amarela, os dedos são nodosos, o regente é Urano. A mão do Sol é estreita, comprida, com dedos lisos, o signo é Leão. Mercúrio tem a mão triangular, maleável e amarela, os dedos nodosos, os signos são Gêmeos e Virgem.
PLANETAS REGENTES
Os planetas regentes dos sigilos têm valores especiais, conforme se segue:
MARTE — Força, conquista e domínio. Guerra e violência.
VÊNUS - Harmonia, atração, fusão. Amor e beleza.
MERCÚRIO — Estudos, viagens e negócios. Comércio, movimento.
LUA — Fecundidade, reprodução e crescimento. Vida interior.
SOL — Vida, calor, luz. Nobreza, poder e heroísmo.
PLUTÃO — Transmutação, morte, trevas. Grandes realizações.
JÚPITER — Fortuna, expansão, vitalidade e família.
SATURNO — Inércia, proibição. Trabalho e realismo.
URANO — Agitação, inadaptação, rebeldia. Visões.
NETUNO — Irracionalismo, demagogia, revolução, Idealismo.

AS LINHAS DO DESTINO

Veja as linhas de sua mão e vá verificando no gráfico. Uma estréia no monte da Lua significa fascínio irresistível e sucesso pessoal. Um triângulo entre o monte de Vênus e o monte da Lua é sinal de inspiração e misticismo. Uma cruz no monte de Júpiter significa sucesso na vida social. Cruzes e barras na região de Mercúrio ou na linha da vida indicam desordem no campo profissional. Uma cruz na região Marciana marca uma inteligência fora do comum. Estrela no monte de Júpiter é o sinal de sucesso na política. O anel de Vênus partido significa inteligência prática.
Linha da cabeça, entrando bem embaixo do monte da Lua, é sinal de ociosidade. Uma cruz no monte de Saturno pressagia sucesso em toda e qualquer atividade. Riscos transversais debaixo do dedo do Sol significam destino contrário. Cruz no monte de Mercúrio quer dizer falta de moral.
O dedo anular muito longo e fino: inveja. Monte de Vênus vermelho e pronunciado, instintos sexuais exagerados. O dedo e o monte de Júpiter muito imponentes significam liderança na atividade política, ou religiosa. Dedo mínimo gordo, quer dizer sucesso na carreira de funcionário. Triângulo no monte de Júpiter, sinal de qualidades diplomáticas. Um triângulo no monte do Sol é sucesso na carreira artística ou literária.
Não se assuste com as linhas interrompidas, elas não representam geralmente uma quebra fatal na vida da pessoa. Uma linha da vida cortada, pode retomar novamente o seu curso, depois de vencido o obstáculo ou passagem difícil que se apresenta. As mãos se modificam com o tempo.
Uma linha de casamentos sem marcas de filhos pode vir a ser vincada durante a vida da pessoa. Uma linha do coração acidentado — cortada por linhas menores —significa instabilidade afetiva, marcada por muitos amores. A linha da cabeça, quando muito unida à da longevidade, significa indecisão diante da vida e submissão à vontade de outro. A linha da cabeça muito próxima a do coração sinaliza uma ambição sem limites — ganância.
A linha Netuniana rege a intuição, a magia e o misticismo. A linha Mercuriana comanda o espírito científico. A linha Lunar é da imaginação criadora.
Quanto mais a linha do casamento se aproxima da linha do coração, tanto mais chances de felicidades. Quanto mais a linha da vida esteja separada da linha da cabeça, tanto mais possibilidades de adaptação às circunstâncias.

CARTOMANCIA
O SIGNIFICADO DAS CARTAS
Tão importante como a quiromancia é a cartomancia (leitura do destino pelas cartas). A cartomancia revela o passado, o presente e o futuro. Foi uma arte profundamente estudada pelos ciganos, que a foram transmitindo. Nas cartas de um baralho, instrumento de jogo, de azar ou de sorte, muita coisa se pode saber.
Para se ler o destino pelas cartas pega-se um baralho que em geral tem 40 cartas, divididas do seguinte modo:
1 . a — COPAS . 2.a — ESPADAS. 3 . a — OUROS . 4.a — PAUS.
Todas contendo 10 cartas com diversos significados, assim distribuídos:
COPAS
REI — Um senhor idoso se opõe ao seu casamento, mas para o seu próprio bem. Pode ser seu pai ou mesmo um parente meio afastado, mas honesto. Tome cuidado. Não facilite com o seu atual namorado que pretende pedir sua mão e sabe que você está de acordo com isso. Chegou o momento de você agir com o cérebro e não com o coração. Dentro de pouco tempo você verá que esse parente tinha razão.
VALETE — Um moço pobre almeja sua mão. Você o despreza porque ele é pobre, mas no fundo o ama. Não sabe distinguir se é o amor ou compaixão. Mas é simplesmente amor, porque esse moço é digno de amor. Muito breve, ele estimulado por você, começará a ganhar dinheiro e será rico. É esse o futuro previsto para esse modesto rapaz.
DAMA — Jovem loira e inimiga deseja conquistar esse senhor idoso que anda de olho em você. Deixe que ela o leve, mesmo porque a fortuna desse homem é temporária. Não faça tanto caso do dinheiro. Deixe que a felicidade venha em primeiro lugar. É mais importante.
SETE — Sem que você espere vai receber dinheiro em quantidade. Talvez uma herança de algum parente que você mal se lembra que exista. No entanto não fique preocupada quanto aos seus. Não será herança provinda da morte de seu pai ou de sua mãe.
SEIS — Morte na família.
CINCO — Doença de um parente bem próximo, mas sem perigo de morte.
QUATRO — Grave acidente em viagem, com você. Procure evitar viagens durante dez dias. Permaneça em sua casa, sossegadamente, que nada lhe acontecerá.
TRÊS — Casamento próximo, mas infeliz. Você escolheu mal. Não seguiu a voz do seu coração.
DOIS — Uma inimiga lhe roubará o seu amor e você ficará despeitada. Evite permitir que esse despeito a leve à calúnia e maledicência.
ÁS — Um grande presente virá de alguém que você já se esqueceu.
ESPADAS
REI — Homem de muito dinheiro vai passar pela sua vida. Não se iluda. Você não o amará, apesar de toda sua fortuna.
VALETE — Um moço pobre, moreno e inteligente também passará. Ele também a ama.
DAMA — Amiga invejosa tentará destruir sua felicidade. É morena, de estatura mediana, maliciosa e perversa. Tudo fará para ver você infeliz. Você deve tê-la prejudicado indiretamente em algum dia de sua vida passada, porque ela, apesar de fingir grande amizade, a odeia.
SETE — Uma paixão forte dominará seu coração. SEIS — Seus esforços serão inúteis no próximo negócio, que está destinado ao fracasso.
CINCO — Casamento à vista. Tome cuidado porque há pessoas interessadas em desmanchá-lo. Não acredite em cartas anônimas.
QUATRO — Muito brevemente o correio trará uma grande notícia.
TRÊS — Uma deliciosa surpresa o espera. No entanto, não fique muito contente. Após essa surpresa, um terrível aborrecimento cairá sobre sua vida.
DOIS — Um homem rico está pensando em você. Não o troque pelo seu verdadeiro amor, mesmo porque a fortuna desse homem não vai durar muito.
ÁS — Moço de fortuna a deseja para esposa.

OURO
REI — Seu pai, ou o parente mais próximo, está prestes a ganhar muito dinheiro. - No entanto, isso não é razão para abandonar o trabalho ou deixá-lo de lado. Talvez nisso consista a chave de fortuna. No próprio trabalho.
VALETE — Um moço rico, mas feio, pretende casar-se com você. Tudo que esse moço tem é dinheiro. Quanto ao resto, nada mais. Nem beleza, nem inteligência. Desista porque você jamais será feliz com ele.
DAMA — A pessoa que você ama corre perigo. Está prestes a ser atraída por outra, que é muito rica. Essa rival é perigosa, porque a fascinação do ouro é grande, e é bem capaz de atrair qualquer pessoa.
SETE — Talvez você faça uma viagem brevemente.
SEIS — Procure trabalhar com cuidado. Você pode perder seu emprego logo. E não será fácil encontrar nova colocação, tão boa quanto essa que tem atualmente. Esta carta prenuncia transtornos no seu trabalho. Cautela.
CINCO — Dentro de alguns dias virá uma carta com boas notícias. Pense em quem poderá escrever a você e espere contente. Não serão más notícias.
QUATRO — Ele ia voltar para você, mas resolveu o contrário. Encontrou uma outra que o deseja muito mais. E essa outra, além de dinheiro, tem beleza. Não tente fazer nada. Você já o perdeu para sempre.
TRÊS — Prepare-se para receber má notícia. Doença na família, mas em parente distante. Não faça nenhuma viagem nem deixe sua casa por muito tempo. É perigoso.
DOIS — Grande carta, trazendo boas notícias. Não sobre assuntos de amor, mas em negócios. Um sucesso em negócios. Dinheiro. Mas isso não quer dizer que haja felicidade.
ÁS — Um presente valioso e inesperado de alguém que você se esqueceu há muito tempo. É uma pessoa loira que você conheceu no passado, e que agora deseja voltar para você.
PAUS
REI — Um homem já idoso e rico, deseja se casar com você. Ele a admira há muito tempo e você nunca suspeitou desse amor. No entanto, ele deve ser correspondido, porque é sincero em seu amor e honesto em suas aspirações.
VALETE — Um homem moreno pode arruinar sua vida. Ele a está iludindo com falsas promessas de amor, e depois de conseguir o que deseja, vai abandoná-la. Tome cuidado.
DAMA — Há uma jovem morena perturbando o seu amor. É pessoa muito sua amiga e que sempre está ao seu lado, sorrindo e dizendo coisas boas. No fundo é uma traidora que se prepara para dar um grande golpe em você.
SETE — Morte na família. Morte de parente muito próximo.
SEIS — Carta trazendo más notícias.
CINCO — Desgosto profundo, mas de curta duração. No entanto, não deixa de ser uma grande dor.
QUATRO — Alguém escreveu a você, e você zangada não quer responder. Deve fazê-lo com maior brevidade, mesmo sendo para desiludir essa pessoa que levada pelo desespero poderá se suicidar. Depois você terá um grande desgosto pesando sobre sua consciência.
TRÊS — Cuidado com os negócios. Um grande contratempo está para vir. Uma queda financeira que o perturbará seriamente.
DOIS — Briga em família. Você deverá agir como conciliador para que o lar não se desmanche.
AS — Grande viagem que não será feliz. Se puder, evite viajar dentro destes dez dias. A influência maléfica deixará de existir dentro desse espaço de tempo.
COMO TIRAR A SORTE
Agora que o leitor já tomou conhecimento do significado das cartas deverá ler atentamente o que se segue, que constitui o modo de deitar as cartas, segundo os sábios ensinamentos de São Cipriano, deixados em seus manuscritos. Procuraremos, numa linguagem simples e sintética explicar de modo a não deixar nenhuma dúvida, sabendo, sem nenhum erro, ler a sorte de quem quiser conhecê-la. Mas, deixamos aqui uma advertência importante: a sorte deve ser brada apenas uma vez por mês, a cada pessoa.
A pessoa que quer saber qualquer notícia, toma o baralho todo, e depois, parte-o em cinco porções e deita-o em forma de cruz, de modo que não veja nenhuma carta, como está indicado na figura número 1.
SEGUNDA ETAPA
Em seguida deve-se fazer a seguinte reza:
"São Cipriano, eu creio imensamente em vossa ciência, que tantas vezes disse a verdade, por isso vos peço de todo o coração que me reveleis pelas cartas, o que eu quero saber dos meus, assim como vós soubestes os males e as felicidades de vossa esposa e filhos".
E depois, tomando a primeira porção das cartas que formam a cruz, estende uma carreira de oito cartas de cima para baixo e depois estende outra carreira de mesma quantidade, até destruir completamente a cruz, como está indicado na figura número 2.
Depois de distribuir as 40 cartas em 5 carreiras de oito cartas, como demonstra a figura número 2, e quando está estiver bem alinhada, a pessoa que vê a sorte deve dizer em voz baixa ou pensar estas palavras, de modo que ninguém ouça:
"Velai, São Cipriano, pelas cartas, de modo que elas não falhem. Velai!”
Terminada a oração, deve fazer três cruzes com a mão direita sobre as cartas, e dando um passo para traz, continua a repetir a mesma reza com a cabeça inclinada para o lado das cartas, mas não deixando ninguém ouvir.
Nesta ocasião, deve estar possuído de muita fé, porque, se São Cipriano verificar que não crê, ele não se perturbará, e nada poderá ser feito.
A pessoa voltando novamente à mesa, sem proferir mais a oração, toma as duas carreiras de oito cartas, dos dois extremos, deixando somente a carreira do centro, de forma que fica com 32 cartas na mão. Depois de embaralhá-las bem, tira oito, que colocará ao lado, de duas em duas, formando uma cruz, como está demonstrado na figura número 3.
Depois que tudo estiver em seu lugar, deve rezar em nome do Senhor e da Virgem Santíssima, para que não seja a operação feita somente em nome de São Cipriano.
"Ó Senhor meu Deus, eu vos peço e também à Virgem Santíssima que me façais com que estas cartas não falhem, e me digas o que se passa com o ente querido que se acha de mim ausente. Maria Santíssima, eu vos peço em nome de vosso amado filho, que sobre a cruz morreu por nós. Amém".
E depois, deitando o resto das cartas sobre a carreira de oito, que está estendida sobre a mesa, como nos mostra a figura número 4, repete-se esta oração, fazendo cruzes”.
Se como expliquei não ficou bem claro, devo mostrar-vos por meio de uma figura como ficarão sobre a mesa os dois grupos de cartas (as 8 em forma de cruz) e as 32 cartas em uma carreira de 5. Vide figura número 5.
Se por acaso a pessoa que está fazendo o trabalho ver alguma carta no momento de deitá-la, a operação fica sem efeito, e é preciso que as deite novamente, e tenha mais cuidado para não deitá-la de novo ou pela terceira vez.
Depois de tudo isso, tomam-se as outras oito cartas que ainda se acham ao lado, em forma de cruz, e deitam-se sobre as 32 que já vimos. Deste modo, sabe-se que as 40 cartas estão juntas, ou por outra, as cinco carreiras de oito, umas sobre as outras.
Quando esta última operação é feita, deve ser acompanhada da última oração.
Depois desta cerimônia, não tem mais outra, e a pessoa que quer saber... corre os olhos sobre as cartas e tira a de cima que melhor lhe convier, a esmo.
Suponhamos que saiu o três de espadas, é preciso então que se recorra aos significados das cartas e iremos encontrar:
"Uma deliciosa surpresa o espera. No entanto, não fique muito contente Após essa surpresa, um terrível aborrecimento cairá sobre sua vida”.
Mas, suponhamos que, em vez de sair três de espadas, saiu o quatro de paus; consultando novamente os significados das cartas vamos achar:
"Alguém escreveu a você, e você zangada não quer responder. Deve fazê-lo com maior brevidade, mesmo sendo para desiludir essa pessoa que levada pelo desespero poderá se suicidar. Depois você terá um grande desgosto pesando sobre sua consciência".
E assim se deve prosseguir sempre rezando Não se deve abusar da ciência do Santo porque o trabalho não terá absolutamente nenhum, resultado, se isso acontecer.
FINALIZANDO
É necessário que se esclareça, que ao divulgarmos esta obra, não o fazemos com a intenção de que os leitores pratiquem suas receitas diabólicas. Publicamo-as porque entendemos ser de utilidade saber-se de tudo quanto haja de mau no mundo, e para que possa se resguardar desse mal, elevando sempre o pensamento a Deus e também para desviar do mau caminho, caso esteja trilhando-o. Deus criou o homem com o livre arbítrio, a ele foi dada a faculdade de escolher o BOM ou o MAU caminho, mas uma coisa é inevitável — um dia responderemos por todos os nossos atos, portanto, é preferível que eles tenham sido bons. E se o amigo leitor tem suas dúvidas quanto à Verdade, não se confunda mais, todos os dias; ao se levantar e ao deitar, eleve o seu pensamento a Deus e agradeça por ter lhe dado o Seu próprio Filho para salvá-lo. E norteie sua vida por um único mandamento: — NÃO FAZENDO NENHUM MAL AOS OUTROS. E o resto, amigo leitor. .. é conversa . . . conversa e conversa.